segunda-feira, 19 de maio de 2008

Crônica de Marluci Martins...


"O ritual era sempre o mesmo: meu pai chegava um pouco antes do telejornal, tomava banho e minha mãe apressava-se em esquentar a comida. Fazia a mesa com habilidade e rapidez, e, por último, escolhia no refrigerador a cerveja mais gelada. Botava a Caracu na mesa, e, como quem estivesse cronometrando tudo aquilo, meu pai chegava à sala no exato instante em que minha mãe encerrava seu serviço, puxando a cadeira para que ele se sentasse.

Foi assim que fui me familiarizando com aquela bebida escura. Levei anos, sim, para descobrir que era um touro e, não, uma vaquinha, o animal que estampava aquele rótulo vermelho. Um dia, meu pai me interrompeu no exato momento em que eu, totalmente à toa e sem interesse no telejornal feito para adultos, tentava descascar com as unhas roídas a simpática vaquinha.

"Quer provar?"

Se não fazia mal ao meu pai, não haveria de ser ruim para mim. Experimentei com medo e, para não decepcioná-lo, disse que tinha adorado aquele gosto amargo. No dia seguinte, na falta da cerveja da vaquinha na geladeira, minha mãe levou para a mesa uma garrafa maior, com um líqüido quase dourado. Encantei-me pelos pingüins que ilustravam aquele rótulo e quis deixar meu pai orgulhoso:

"Posso provar?"

De gole em gole, fui crescendo, assim como crescia a quantidade de cerveja que meu pai, cuidadoso, permitia que eu experimentasse. Custei a convencê-lo de que já era hora de ter meu próprio copo, em vez de ficar vivendo de esmolas. Quando, já moça, consegui dobrá-lo, deixei que a espuma grudasse nos meus lábios só para depois varrê-la para dentro da boca com a língua. Bebi tudo. E guardei comigo um segredo que somente hoje, sei lá quantos anos depois, revelo ao mundo: fiquei tonta e deitei no sofá.

Meu pai se aposentou, mas ainda bebe sua cerveja. De vez em quando, comigo, num almoço de domingo com a família, hoje bem maior.

Mas sou também de beber sozinha. Caipirinha, cerveja e chope são a minha companhia, assim como os garçons com quem fiz amizade por esses bares da vida. Adoram falar de futebol. E, sendo assim, o que há de melhor no mundo do que resenha de bola com aquele santo homem que mata a sede da gente? Resposta: o melhor é fazer isso tudo com alguma pressão no chope. Amém."

Marluci Martins é repórter de Esportes do Jornal O Dia desde 1988. Faz parte também do time de comentaristas do programa Redação Sportv. Nas horas vagas, dedica o tempo que lhe resta ao sagrado chope gelado e seu blog, Futebol&Afins (pra conferir, é só clicar no link).

8 comentários:

Eugenia disse...

Pô, Dani, tu inaugura um blog e nem avisa aos amigos? Manda um e-mail prá galera vir aqui conhecer e avisar...
Eu descobri por acaso, lendo o Buteco do Edu.
Parabéns à Marluci pela crônica... desceu redondo...
Beijos!

Daniel Samam disse...

Oi querida!
pois é, nessa correria eu nem avisei a todos...
mas acho q tinha comentado c/ vc
enfim...que bom q gostou...beijo!

CARLOS Henrique CADINHA disse...

Fala Querido Saman, primeiramente deixa eu pedir alguma coisa pra nós moiá a garganta:

Zé, traz uma Original aí e 2 copos gelados !!!

Bem, segundamente, obrigado por estrear meu blog.

Quanto ao seu blog, é mais um botequim virtual para bebermos e conversarmos além das mesas do boteco...

Muito bom e de muito bom gosto !!!

Um abraço,

Carlos Henrique e Família Original.

Daniel Samam disse...

valeu meu querido Carlinhos!
Sucesso pra todos nós!

Anônimo disse...

Daniel,
Parabéns pelo blog.Boa identidade visual e uma escrita fluente.
Adorei a crônica da Marluci.Como ela escreve bem!
Se quiser,dê uma olhada no blog do botequeiro paulistano:
www.chefjulinho@blogspot.com
Abraços a você,à Marluce,ao Carlão Original e o Kadu tá em BH!
Longa vida Moacyr Luz!

Daniel Samam disse...

Valeu Julinho!
tamo junto, meu querido!
forte abraço!

Anônimo disse...

Meu querido boêmio , mto bom esse texto , lindo..
Me trouxe boas recordações !
rs
Passando pra deixar meu beijoo e dizer que o blog é de mto bom gostoo !
irei voltar mais vezes , rs

Beijos Boêmio !

Daniel Samam disse...

Oi minha querida!
valeu pela visita e pelos elogios.
Beijos!